23 agosto, 2023

BRAGA, Theophilo - AS THEOCRACIAS LITTERARIAS. Relance sobre o estado actual da Literatura Portugueza. Lisboa, Typographia Universal, 1865. In-8.º (21x14 cm) de 14, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Trabalho que reflete a participação - corrosiva - de Teófilo Braga na Questão do Bom Senso e Bom Gosto quando ainda estudante em Coimbra, ao lado de Antero de Quental. A polémica teve início em 1865 entre Antero, percursor do Realismo, e António Feliciano de Castilho, ligado à corrente literária do Romantismo, escola gasta e "cega" à realidade do mundo, arrastando para esta contenda alguns dos grandes vultos da vida literária de então, incluindo Eça e Camilo, por sinal, em campos opostos.
Opúsculo raro, marcante, com indubitável interesse histórico e literário, refletindo tout court o pensamento de Braga e a doutrina do novel movimento estudantil coimbrão.
Bom Senso e Bom Gosto: "Constitui um dos documentos mais importantes da polémica literária que ficou conhecida como a "Questão Coimbrã" ou mesmo a "Questão do Bom Senso e Bom Gosto", tendo surgido como resposta à carta-posfácio de António Feliciano de Castilho inserta no Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, de outubro de 1865, na qual o autor de Cartas de Eco a Narciso aludia ironicamente às teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios de Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga, e na nota posfacial das Odes Modernas, de Antero de Quental (de julho de 1865). Sentindo-se visado, Antero de Quental responde em novembro com o panfleto Bom Senso e Bom Gosto, [dando início à polémica, uma das mais interessantes e participadas da literatura nacional]".
(Fonte: Infopédia)
As Teocracias Literárias: "Panfleto literário com que Teófilo Braga intervém na "Questão Coimbrã", em novembro de 1865, colocando-se ao lado do seu condiscípulo de Coimbra Antero de Quental e das posições por este defendidas no folheto Bom Senso e Bom Gosto, que considera "há de vir a ser um capítulo da história da literatura contemporânea". Visando diretamente Castilho, Teófilo começa por defender o fim das "realezas literárias", sentenciado pela "evolução romântica", para em seguida censurar a "rotina arcádica, palavrosa, nula de ideias, de sentimentos falsos, que já se nota na mocidade que o admira", patente na obra do autor de Cartas de Eco a Narciso. Acusando Castilho de desconhecer o que seja "Plástica" ou "Estética", chega ao ponto de o atacar pessoalmente ("Digamos a verdade toda. O Sr. Castilho deve a sua celebridade à infelicidade de ser cego. O que se espera de um cego? Apenas habilidade.") e profetiza que "a reputação do Sr. Castilho acaba com a vida"."
(Fonte: Infopédia)
"Força-me a consciencia a erguer a voz:
Estamos n'uma terra em que a verdade para ser ouvida precisa trazer a fórma do escandalo. A não vir d'este modo é uma coisa inintelligivel, obscura. Tanto melhor para quem aspira a ser entendido sómente por aquelles que se pagam de sua obscuridade pela firmeza da consciencia, e integridade de caracter.
A grande individualidade, resultado dos progressos d'este seculo, vae tornando impossiveis todas as supremacias, tanto na religião, como no estado, como na arte. É para onde confluem todos os esforços, todas as luctas; é o mobil de acção na Europa moderna.
As realezas litterarias foram as primeiras que acabaram, porque se comprehendeu de prompto, que não era o modêlo academico, mas o sentimento puro, que nos havia elevar á perfeição, dar-nos a percepção immediata das fórmas que traduzem o bello na vida. Cada um, em vez de ir com os olhos nas pégadas do mestre, procurou desenvolver em si esse sentimento ingenito; e em vez de arrancarem curiosidades hybridas de sua phantasia, souberam descobrir como a eternidade se allia com as creações humanas. Passo dado pela evolução romantica. [...]
Esta phrase usual de republica das lettras significa mais do que se pensa; a intelligencia não reconhece magestades, nem hierarchias, vive da egualdade plena, e tanto, que é este o dom maravilhoso da razão, a uniformidade de processos para uma egualdade de resultados - a verdade. [...]
A arte não é isto! a mentira é uma perversidade de morte, principalmente no que toca ao sentimento, que não se discute, mas se deixa impressionar sómente. Não é assim que se é pontifice das lettras.
Digamos a verdade toda. O sr. Castilho deve a sua celebridade é infelicidade de ser cego. O que se espera de um cego? Apenas habilidade. É uma celebridade triste porque tem origem na compaixão, e a compaixão fatiga-se. [...]
O publico tem direito a que lhe respeitem uma celebridade que fez. É de razão. Mas como se fez esta celebridade? Do mesmo modo que os insectos formaram a enorme cordilheira dos Andes, como a defecção dos passaros, que emigram, forma ilhas no meio do mar."
(Excerto do texto)
Encadernação contemporânea em cartão flexível. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
30€

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