VIEIRA, P. Antonio - SERMAM // DE S. IOAM // BAPTISTA. // NA PROFISSAM // Da Senhora // MADRE SOROR MARIA DA CRVZ, // Filha do Excellentissimo // DVQUE DE MEDINA SYDONIA, // SOBRINHA DA RAINHA N. S. // Religiosa de Sam Francisco. // No Mosteiro de Nossa Senhora da // Quietaçaõ das Framengas. // Em Alcantara. // Esteue o SANCTISSIMO SACRAMENTO exposto. // Assistiraõ suas MAGESTADES, & ALTEZAS. // PREGOVO O P. ANTONIO VIEIRA // da Companhia de IESV. Prégador de S. Magestade. // EM LISBOA. COM TODAS AS LICENC,AS // Na Officina de Domingos Lopes Rosa. Anno 1644. In-8.º (19,5x14 cm) de [32] p. (inc. frontesp.) ; B.
1.ª edição.
Sermão do Padre António Vieira escrito a propósito da Profissão Perpétua de Soror Maria da Cruz, abadessa do Convento de Nossa Senhora da Quietação, sobrinha da rainha D. Luísa de Gusmão, mulher de D. João IV.
São muito raros e apreciados os sermões do insigne jesuíta, sobretudo os que, como é o caso, foram proferidos (e publicados) no contexto e sequência da Restauração da independência nacional.
"No dia em que nace a Voz de Deos, justamente emudecem as vozes dos homês. Admiraçoês emudecidas saõ a retorica deste dia: mirati sunt unisersi. Pasmos, & assombros saõ as eloquêcias desta acção: Factus est timor super omnes vicinos eorum. He dia hoje de falarem os coraçoês, & de callarê as ,lingoas: por isso a lingoa de Zacharias emudeceu, por isso os coraçoens dos Montanhezes fallauaõ. Posuerunt in corde suo discentes. E se em qualquer dia do grande Baptista he perigoso o fallar, & os discursos mais discretos saõ os que se remetem ao silencio; que sera hoje no concurso de tantas obrigaçoens em que as causas do temor, & os motivos da admiração se vem taõ crecidos? Se toda a razão dos assombros no nacimento do Baptista era verem que daua Deos a hua alma a mão de amigo. Et enim manus Domini erat cum illo; Quanto mais deue assombrar hoje nossa admiração ver q dà Deos a outra alma a mão de Esposo: Et enim manus Domini erat cû illa?"
(Excerto do Sermão)
Soror Maria da Cruz nasceu algures no final da década de 1620, provavelmente, em ou perto de Sanlúcar (Andaluzia), a sede dos duques de Medina Sidónia. O seu pai era Gaspar de Guzmán y Sandoval, 9.º Duque de Medina Sidonia (1602-1664), mas a identidade da sua mãe permanece desconhecida. A tia paterna dela foi Luísa de Guzmán (1613-1666), Rainha de Portugal 1640-1666. Irmã Maria juntou-se à tia quando esta foi para Portugal em 1633 para se casar o duque de Bragança, futuro rei de Portugal. Em Vila Viçosa (Alentejo), Luísa de Guzmán foi viver para o palácio ducal e Soror Maria da Cruz foi estudar para o vizinho convento franciscano das Chagas. Em Dezembro de 1640, Soror Maria mudou-se para Lisboa com a recém-proclamada família real onde ingressou no convento franciscano de Nossa Senhora da Quietação em Alcântara (BELÉM 1758: 546). Ela fez a sua profissão perpétua em 1644 com a presença da família real e em que o Padre António Vieira, o célebre jesuíta, pregou (VIEIRA 1644). Este convento recebeu fundos reais e confinava com a Quinta de Alcântara, uma das residências privilegiadas do novo família real (CASTELLO BRANCO 1971: 50-79; COSTA, CUNHA 2008: 169; COSTA 1712: 650). A própria Soror Maria recebia 40 mil réis por ano da Casa de Bragança - o património dos duques de Bragança (BA, Homem., 51-X-17: fls. 214). Foi dentro deste convento que provavelmente a Irmã Maria passou algum tempo com duas das suas primas, as infantas Dona Joana (1635-1653) e Dona Catarina (Catarina de Bragança 1638-1705, Rainha-consorte de Inglaterra (1662-1685), e onde ela acabaria por acolher diplomatas estrangeiros e dignitários. Foi neste convento que ela acolheu a rainha consorte francesa Maria Francisca de Sabóia (1646-1683) quando chegou em 1666 para casar com Afonso VI (1643-1683), Rei de Portugal (1656-1683)."
(Fonte: James, Ben - Two Marias: Illegitimacy and Agency on the fringes of the Restoration Cour, Palácio Nacional de Sinta, 2024)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Envelhecido. Aparado, porém, nunca atingindo o texto. Mancha amarelada de humidade, desvanecida, transversal a todo o opúsculo. Com falhas e pequenos defeitos marginais. Protegido por capas lisas em papel celofane.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
Peça de colecção.
150€

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