ALMEIDA, Padre Theodoro d’ - HARMONIA // DA RAZAÕ, E DA RELIGIAÕ, // OU // REPOSTAS FILOSOFICAS // AOS ARGUMENTOS DOS INCREDULOS, // que reputaõ a Religiaõ contraria á Boa // Razaõ. // Dialogo do Author da Recreaçaõ Filoso- // fica sobre a parte da Metafysica, que // se chama Theologia Natural. // TOMO IX. // LISBOA // NA OFFICINA PATRIARCAL. // M. DCC. XCIII. // Com licença da Real Meza da Commissaõ / Geral sobre o Exame, e Censura // dos Livros. In-8.º (18x11 cm) de [20], 403, [1] p. ; il. ; E. 1.ª edição.
Nono tomo (de 10) que compõem a Recreação Filosófica, obra maior do padre oratoriano Teodoro de Almeida, sendo este volume dedicado ao tema da Metafísica. Obra redigida em forma de diálogo, sendo interlocutores no desfiar da mesma "Baron" e "Theodosio", dedicada pelo autor "Ao Ill.mo e Ex.mo Senhor D. Joseph Maria de Mello, Bispo Titular do Algarve, Confessor de Sua Magestade Fidelissima, e Inquisidor Geral".
Ilustrado com uma bonita gravura no início da obra (Tarde I).
"Sendo as Obras que se imprimem offerecidas ao Publico, convem que este seja informado das intenções de quem lhe faz obsequio de lhe sacrificar o seu trabalho. Eu tenho visto, com confusaõ minha, a acceitaçaõ, que o Publico tem feito dos primeiros trabalhos da minha mocidade, na Recreaçaõ Filosofica, mostrando ser-lhe agradavel o meu intento de vulgarizar o conhecimento das bellezas naturaes, que todos tinhaõ diante dos olhos e poucos viaõ; cresceo com este favor do Publico o desejo de servir, e continuarei com a instrucçaõ sobre a Logica, familiarisando, e illustrando (quanto a materia abstracta soffria) os movimentos do nosso entendimento no descobrimento da verdade. Confirmei estas regras com a Geometria e Mecanica, que formaõ em dois volumes do supplemento á Recreaçaõ. E achando-me já algum tanto fatigado pela idade e pelos acontecimentos, me inclinava a cessar desta fadiga, posto que gostosa. Porém persuasões, que eu por modo nenhum devia desprezar, me fizeraõ pegar outra vez da penna: entaõ o juizo especulativo, e o sangue ainda activo me conduziraõ a pensamentos mais altos, subindo com o discurso á parte superior da Filosofia, que chamaõ Matafysica; e escrevi na Ontologia as Maximas Geraes sobre o conhecimento de tudo o que tem existencia, ainda que naõ seja Materia; e entrando na Pneumatologia, ou Sciencia do espirito, o objecto principal, que se offerecia a meus olhos era Deos; isto he, a parte que chamaõ Theologia Natural: porém neste ponto me achei muitos annos perplexo; e vou a declarar o motivo."
(Excerto de Prefacçaõ)
Indice das matérias, que aqui se trataõ neste Tomo:
[Dedicatória] | [Prefacçaõ] | [Indice das matérias, que aqui se trataõ neste Tomo] | Tarde I. Que as materias da Religiaõ se devem tratar com muito respeito, attençaõ, e cuidado. Tarde II. Do estylo, com que se deve averiguar a verdade nas materias de Religiaõ. Tarde III. Sobre a Existencia de Deos. Tarde IV. Sobre os Mysterios da nossa Religiaõ em commum. Tarde V. Sobre a Lei Natural, e Luz da Razaõ, e necessidade das Leis Positivas. Tarde VI. Sobre a Materia, e Espitito. Tarde VII. Da Espiritualidade, e Immortalidade da Alma. Tarde VIII. Sobre a Religiaõ Revelada commum. Tarde IX. Sobre o Peccado Original. Tarde X. Sobre a Maxima, que diz: Fóra da Igreja ha salvaçaõ. Tarde XI. Sobre o Interesse, que Deos tem nas nossas acçaões. Tarde XII. Sobre o Culto devido a Deos Interior e Exterior. Tarde XIII. Sobre a Immortalidade Divina, e sobre o Fogo vingador da outra vida. | Appendix. Tarde XIV. Sobre a Graça Divina, e Conceiçaõ da Senhora. Tarde XV. Sobre a Confissão Auricular.
Teodoro de Almeida (1722-1804). "Oriundo de uma família de extracção social modesta, de Lisboa, Teodoro de Almeida ingressou na Casa do Espírito Santo da Congregação do Oratório a 11 de Abril de 1735, possivelmente devido à protecção do prepósito da Casa, o pe. Domingos Pereira. Iniciou depois os seus estudos sob a direcção do pe. João Baptista, o autor da Philosphia Aristotelica Restituta, que o influenciará de forma decisiva, definindo-se então o seu interesse pela Filosofia Natural.
Em 1748 foi substituto do mestre encarregue do triénio de Filosofia, o pe. Luís José, cujo docência assegurou a partir de 1751. Neste mesmo ano saíram dos prelos os dois primeiros volumes da sua obra mais importante, a Recreação Filosófica.
A década de 1750 é a da plena afirmação de Teodoro de Almeida, que ganha prestígio crescente como pregador, mas sobretudo como escritor e divulgador de temas científicos. Os volumes da Recreação sucedem-se a ritmo veloz, publicando-se o sexto em 1762. Em 1752 o pe. João Baptista inicia as conferência de Filosofia Experimental - ou Filosofia Natural - na Casa das Necessidades, beneficiando do excelente equipamento de laboratório doado à Congregação por D. João V, nas quais o seu discípulo viria a ter papel de destaque. As conferências eram abertas ao público e foram um sucesso, chegando a registar mais de 400 assistentes, entre os quais o próprio monarca. Todavia o fenómeno ficou algo a dever à curiosidade de salão, sem que todos os que a ela assistiam pudessem ter a percepção do que estava realmente em jogo do ponto de vista científico.
Enquanto expoente desta popularidade da divulgação científica, Almeida foi alvo de várias críticas e polémicas, sendo acusado de desvios em relação à ortodoxia religiosa e de ser plagiário. De entre os que vieram em sua defesa salienta-se o jesuíta Inácio Monteiro, autor de uma obra importante obra pedagógica também.
Na década seguinte alguns dos Oratorianos mais influentes conheceram a perseguição de Pombal. Teodoro de Almeida foi forçado a exilar-se em 1768, continuando a desenvolver uma acção pedagógica importante em França. Regressou a Portugal em 1778, logo após o afastamento de Carvalho e Melo, embrenhando-se nos anos seguintes na revitalização do Oratório, na escrita e nos cursos.
É também um dos elementos do grupo que organiza a criação da Academia das Ciências de Lisboa, que se apresenta a público com uma Oração de Abertura de sua autoria, proferida a 4 de Julho de 1780; nela comparava o atraso do país em matéria científica ao reino de Marrocos, suscitando uma violenta reacção dos sectores intelectuais ligados ao pombalismo, expressa em várias cartas anónimas que vituperavam o orador e a nova Academia.
Continuou depois a Recreação, cujo plano editorial se concluiu com a publicação do volume X em 1800. Esta última fase é porém já dominada por um conservadorismo que reage às repercussões políticas do ideário das Luzes, que foi o seu numa primeira fase enquanto não pôs em causa a religião revelada e a ordem social vigente, à qual Teodoro de Almeida se encontrava fortemente vinculado, embora longe da sua componente ultramontana; manifestava-se sim contra os descrentes, pela conservação do seu ideário religioso, como antes de afirmara contra os escolásticos, pela renovação do ideário científico.
Da obra ficou sobretudo o grande projecto enciclopédico que foi a Recreação Filosófica (com os volumes I a VI sobre a Filosofia Natural, o VII sobre a Lógica, e os últimos três sobre a Ética e a Moral), complementada pelas Cartas Físico-Matemáticas (3 vols., 1784-1798), sendo aquela a obra que leva mais longe e ao mesmo tempo marca os limites das possibilidades da Ilustração católica portuguesa. Mas além destas deixou muitos mais escritos, como o Feliz Independente do Mundo e da Fortuna (3 vols., com 2.ª ed. corrigida em 1786), o mais celebrado dos seus livros sobre espiritualidade."
(Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p47.html)
Belíssima encadernação coeva inteira de pele, gravada com título e entalhes a ouro nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Raro.
50€