30 abril, 2025

FRANCO, Renato -
ENSAIOS (contos).
[Prefacio de Luiz de Magalhães]. Aveiro, Imprensa Aveirense, 1893 [Capa, 1892]. In-8.º (21,5x14,5 cm) de [8], 198, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Capa belíssima assinada "Rocha".
Colecção de sete contos marcados por alguma ingenuidade, por certo, devido à juventude do autor, recém iniciado nas lides literárias.
Obra valorizada pela carta-prefácio de Luiz de Magalhães (1859-1935).
Pouco foi possível apurar acerca do autor: Renato Melo Franco, de seu nome completo, seria natural de Aveiro e, de acordo com o Arquivo Histórico da Economia, terá nascido em 10.07.1862 e foi Escriturário de 1.ª classe na Direcção das Obras Públicas do Distrito de Aveiro. Além da presente obra (1893), publicou em 1919, pelo menos, dois artigos na Illustração Portuguesa: Mulheres de Aveiro e Aveiro, Terra Linda.
"- Assim continuas n'essa vida, mulher?
- Ora, deixa-me, deixa-me...
E a snr.ª Philomena, mulher do valente pescador Aniceto, de rosto pallido, olhos no chão, e marrafa a cobrir-lhe a testa, acocorava-se ao pé do borralho para começar a fazer o jantar do meio dia.
O marido resmungava pragas surdas, n'um desgosto pungente, e sahia depois para a rua.
- Vae-te démo negro, desafogava a boa snr.ª Philomena. Nem a gente é senhora das suas acções. Já se não pode amar a Deus socegadamente!
Ha um bom par de mezes que a snr.ª Philomena não deixava a egreja. Percorria em visita continua todas as capellas d'Aveiro e dos arredores, frequentando com fervor todos os sermões e mais officios divinos que se celebravam durante o dia. Depois que ouvira, uma vez, as predicas dos santos missionarios, o seu espirito fraco impressionou-se de tal modo que nunca mais pôde abandonar os santos logares, como ella dizia, para se entregar d'alma e coração a ferrenha beatisse.
Ás tres da madrugada o sino tocava a matinas. Ella saltava logo da cama, vestindo-se á pressa, a correr para a igreja. O marido esse, sobraçando as rêdes, lá ia para a pesca mais o camarada."
(Excerto de Os santos missionarios)
Indice:
I - A meus paes. II - Carta-prefacio. II - Os Santos Missionarios. IV - Passeiando... V - Os ninhos. VI - O Dominó Verde. VII - Illuzões perdidas. VIII - Inexperada fortuna. IX - Olympia.
Encadernação simples em meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura anterior.
Raro.
45€

29 abril, 2025

PORTUGAL MAIOR.
Revista de propaganda das actividades portuguesas e do trabalho dos portugueses no mundo - AÇORES. Número póstumo comemorativo das Bodas de Ouro do jornalista açoriano Armando Ávila. Rio Maior, Composição, impressão e coordenação das Oficinas Gráficas do «Jornal do Oeste», Editoras, 1967. In-4.º (29x22,5 cm) de [44] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Importante subsídio monográfico dedicado aos Açores, especialmente à Ilha Terceira, terra natal do homenageado, que também fundou a revista «Portugal Maior», e aos testemunhos e colaboração de personalidades da vida literária local e nacional.
Número especial, com interesse histórico e regional. Sem referências bibliográficas. A BNP não menciona.
Obra muito ilustrada no texto com fotografias a p.b. no texto e publicidade alusiva a produtos e serviços angrenses.
"Pedem-me algumas palavras àcerca do Armando, para serem publicadas neste último número do seu «Portugal Maior». Haveria muito a dizer, certamente,. Mas não quero nem devo alongar-me. Bastará afirmar, com absoluta consciência e verdade, que esta revista foi a sua última paixão. A última... e mais duradoira!
Lutou estòicamente para conseguir a sua publicação, várias vezes esbarrando com incríveis e destrutivas más vontades.
Mas venceu e, desde que a fundou, até que a morte o levou, no passado dia 4 de Março, para ela viveu, dedicando-lhe o melhor do seu tempo, da sua vida, da sua inteligência, da sua já abalada saúde e da sua longa prática do jornalismo."
(Excerto de Palavras de saudade, por Conceição Ramalho)
Índice:
Palavras de saudade, Por Conceição Ramalho | Nasci jornalista e jornalista quero morrer - A morte surpreendeu-o na sua missão | Senhor Santo Cristo dos Milagres | Canção: Os Açores, Por Alice Moderno | Notas históricas sobre a descoberta dos Açores | Sé Catedral de Angra | O mar na História Açoriana | Um conto inédito: Maria Doida, Por João Ilhéu | Ilha Terceira | Lar de Santa Maria Goretti | Biscoito brabo, mistério velho, furnas e algares..., Por Vitorino Nemésio | Missão Sagrada - o último artigo de Armando Ávila, Por Armando Ávila | Mortos ilustres - Jaime Brasil | O Folclore Açoreano, Pelo Padre Tomaz Borba | Ilha Terceira, Pelo Prof. Dr. Vitorino Nemésio | Os "Montanheiros" depararam com 50 salas e cenários de maravilha nos 3.300 metros já explorados da Galeria dos Balcões | Em Angra do Heroísmo foi descoberta uma galeria subterrânea com mais de dois mil metros | Perspectivas da História Baleeira nos Açores | Glória ao Divino!, Por Armando Ávila | Hora alta do pensamento açoriano... Vitorino Nemésio comemorou as suas «Bodas de Ouro» na terra natal | A acção do Prior do Crato nos Açores, Por Correia da Costa | Costumes Açorianos | Angra é poema, Por Carlos Faria | Os pioneiros da Civilização Açoriana, Por Jaime Brasil | O Milhafre ave simbólica do arquipélago dos Açores | Férias nos Açores  - A Baía de Angra, a mais bela das enseadas açorianas.
Armando Borges de Ávila (Angra do Heroísmo, 1900 - 1967). "Foi um jornalista e escritor, pioneiro da redacção e edição de guias turísticos e da promoção turística nos Açores. Nasceu na freguesia da Sé, filho de Emílio Borges de Ávila, comerciante, e de Elvira Avelar Borges de Ávila, oriundos da ilha de São Jorge. Foi sobrinho de Manuel Borges de Ávila, presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo durante a Primeira República. Fez o seu percurso de educação básica e secundária na sua cidade natal. Iniciou-se no jornalismo em 1916, publicando no Eco Académico, jornal do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo. No ano seguinte substituiu Vitorino Nemésio como director do jornal Estrela d´Alva. A partir de então, dedicou-se à atividade jornalística profissional, ora em Angra do Heroísmo, ora em Lisboa. Quando residiu em Lisboa, trabalhou no Diário da Noite, Sports, Diário de Notícias, Capital, Novidades e Humanidade. Nesse período colaborou como correspondente no Diário da Madeira, Correio dos Açores e A União. Em Angra do Heroísmo foi editor do periódico O repórter : semanário de grandes reportagens, humorismo, crítica, arte, desporto e informação, propriedade de Manuel Joaquim de Andrade, que se publicou naquela cidade a partir de 1934. Também nesse período fundou e dirigiu o jornal A República e o Jornal de Angra. Dedicou-se à promoção do turismo, tendo escrito e publicado várias edições do Guia Turístico da Ilha Terceira (1940) e do Anuário Índice das Actividades Económicas do Arquipélago dos Açores e da Madeira (1951). Editou o periódico Portugal Insular (1939). Também fundou e dirigiu o periódico Portugal Maior : revista de propaganda das actividades portuguesas e do trabalho dos portugueses no mundo (1965). Ao longo dos 50 anos de atividade como jornalista defendeu os interesses do arquipélago e empenhou-se na propaganda turística do mesmo. Os trabalhos que publicou foram, essencialmente, crónicas relacionadas com o jornalismo. Armando Borges de Ávila esteve preso por razões políticas, tendo como data da primeira prisão 25 de março de 1943. Foi solto em liberdade condicional em 29 de maio de 1944. Jornalista presente em Lourenço Marques em 1942, foi preso em Lisboa no ano seguinte, quando as autoridades portuguesas souberam que tinha sido enviado para África pela Abwehr em missão de espionagem. Em consequência, quando pretendia regressar de Angra do Heroísmo a Lisboa, o delegado marítimo britânico das forças britânicas em Angra recusou o «navicert» ao navio N/M Lima se ele embarcasse. Para além da vastíssima obra dispersa pelos jornais e revistas, é autor de diversas monografias."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Nome e endereço manuscrito, ao alto, na capa, que também ostenta selo de correio.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

28 abril, 2025

PALÁCIO, Maria Pédra -
O MISTÉRIO DO PAÇO DE GIELA OU BABI-GARB : romance
. Arcos-de-Valdevez, 1945. In-8.º (20x13 cm) de 128 p. ; B.
1.ª edição.
Romance moralista; a acção desenrola-se entre Arcos de Valdevez e Lisboa. Os acontecimentos descritos terão ocorrido na realidade.
Maria Pedra Palácio é o pseudónimo literário de Ignacia Maria de Queiroz Vaz Guedes.
"O Paço de Giela é um exemplar notável de arquitetura civil privada medieval e moderna, considerado um dos mais importantes Monumentos Nacionais. A sua origem está profundamente ligada à formação da importante “Terra de Valdevez”. Atualmente é visível a torre medieval bem como o corpo residencial, com janelas “manuelinas” e entrada fortificada, maioritariamente edificado no século XVI. A torre foi construída em meados do século XIV, substituindo uma outra existente já no século XI. Apresenta-se agora totalmente recuperado."
(Fonte: https://www.visitarcos.pt/o-melhor/encontre-se-com-a-historia-no-paco-de-giela)
Obra rara e muito curiosa. A BNP não menciona.
"O Morgado do Pinhal casava uma das quatro filhas que tinha. Era a segunda, uma linda morena, de olhos aveludados, que deixava vários pretendentes a suspirar de pena, por não terem sido preferidos. O Morgado tinha, por esta filha, uma amizade muito particular de que êle se desculpava muito, perante a outras filhas, que se riam e protestavam, dizendo ao pai: Então o paizinho julga-nos invejosas da Raquel? Já se sabe que ela esteve doente, e precisa de muitos carinhos e cuidados.
Mas não era só a doença passada da Raquel que a tornava um ai Jesus do pai. - Além de ser parecidíssima com êle, que era um belo homem, a Raquel compreendia-o muito bem e ajudava-o nos seus trabalhos de lavoura, e na administração da casa. Quantas vezes o morgado ia para as suas enormes propriedades em Ponte do Lima, e a Raquel ficava no Pinhal, em Cardielos, vigiando as vindimas, e de ali ia à quinta de S. João em Deucriste (aldeia Vianense ao lado de Darque), fazer as de lá também. E recebia as pensões dos caseiros, assentando tudo, e ficava com o dinheiro da casa para ir dando a suas irmãs para o govêrno da mesma. O Morgado tinha ficado viúvo aos 34 anos, e dedicava tôda a sua vida às filhas, que êle estremecia, e à administração dos seus bens."
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas com defeitos e pequena falha de papel à cabeça.
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
45€
Reservado

27 abril, 2025

ALMEIDA, Padre Theodoro d’ -
HARMONIA // DA RAZAÕ, E DA RELIGIAÕ, // OU // REPOSTAS FILOSOFICAS // AOS ARGUMENTOS DOS INCREDULOS, //
que reputaõ a Religiaõ contraria á Boa // Razaõ. // Dialogo do Author da Recreaçaõ Filoso- // fica sobre a parte da Metafysica, que // se chama Theologia Natural. // TOMO IX. // LISBOA // NA OFFICINA PATRIARCAL. // M. DCC. XCIII. // Com licença da Real Meza da Commissaõ / Geral sobre o Exame, e Censura // dos Livros. In-8.º (18x11 cm) de [20], 403, [1] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Nono tomo (de 10) que compõem a Recreação Filosófica, obra maior do padre oratoriano Teodoro de Almeida, sendo este volume dedicado ao tema da Metafísica. Obra redigida em forma de diálogo, sendo interlocutores no desfiar da mesma "Baron" e "Theodosio", dedicada pelo autor "Ao Ill.mo e Ex.mo Senhor D. Joseph Maria de Mello, Bispo Titular do Algarve, Confessor de Sua Magestade Fidelissima, e Inquisidor Geral".
Ilustrado com uma bonita gravura no início da obra (Tarde I).
"Sendo as Obras que se imprimem offerecidas ao Publico, convem que este seja informado das intenções de quem lhe faz obsequio de lhe sacrificar o seu trabalho. Eu tenho visto, com confusaõ minha, a acceitaçaõ, que o Publico tem feito dos primeiros trabalhos da minha mocidade, na Recreaçaõ Filosofica, mostrando ser-lhe agradavel o meu intento de vulgarizar o conhecimento das bellezas naturaes, que todos tinhaõ diante dos olhos e poucos viaõ; cresceo com este favor do Publico o desejo de servir, e continuarei com a instrucçaõ sobre a Logica, familiarisando, e illustrando (quanto a materia abstracta soffria) os movimentos do nosso entendimento no descobrimento da verdade. Confirmei estas regras com a Geometria e Mecanica, que formaõ em dois volumes do supplemento á Recreaçaõ. E achando-me já algum tanto fatigado pela idade e pelos acontecimentos, me inclinava a cessar desta fadiga, posto que gostosa. Porém persuasões, que eu por modo nenhum devia desprezar, me fizeraõ pegar outra vez da penna: entaõ o juizo especulativo, e o sangue ainda activo me conduziraõ a pensamentos mais altos, subindo com o discurso á parte superior da Filosofia, que chamaõ Matafysica; e escrevi na Ontologia as Maximas Geraes sobre o conhecimento de tudo o que tem existencia, ainda que naõ seja Materia; e entrando na Pneumatologia, ou Sciencia do espirito, o objecto principal, que se offerecia a meus olhos era Deos; isto he, a parte que chamaõ Theologia Natural: porém neste ponto me achei muitos annos perplexo; e vou a declarar o motivo."
(Excerto de Prefacçaõ)
Indice das matérias, que aqui se trataõ neste Tomo:
[Dedicatória] | [Prefacçaõ] | [Indice das matérias, que aqui se trataõ neste Tomo] | Tarde I. Que as materias da Religiaõ se devem tratar com muito respeito, attençaõ, e cuidado. Tarde II. Do estylo, com que se deve averiguar a verdade nas materias de Religiaõ. Tarde III. Sobre a Existencia de Deos. Tarde IV. Sobre os Mysterios da nossa Religiaõ em commum. Tarde V. Sobre a Lei Natural, e Luz da Razaõ, e necessidade das Leis Positivas. Tarde VI. Sobre a Materia, e Espitito. Tarde VII. Da Espiritualidade, e Immortalidade da Alma. Tarde VIII. Sobre a Religiaõ Revelada commum. Tarde IX. Sobre o Peccado Original. Tarde X. Sobre a Maxima, que diz: Fóra da Igreja ha salvaçaõ. Tarde XI. Sobre o Interesse, que Deos tem nas nossas acçaões. Tarde XII. Sobre o Culto devido a Deos Interior e Exterior. Tarde XIII. Sobre a Immortalidade Divina, e sobre o Fogo vingador da outra vida. | Appendix. Tarde XIV. Sobre a Graça Divina, e Conceiçaõ da Senhora. Tarde XV. Sobre a Confissão Auricular.
Teodoro de Almeida (1722-1804). "Oriundo de uma família de extracção social modesta, de Lisboa, Teodoro de Almeida ingressou na Casa do Espírito Santo da Congregação do Oratório a 11 de Abril de 1735, possivelmente devido à protecção do prepósito da Casa, o pe. Domingos Pereira. Iniciou depois os seus estudos sob a direcção do pe. João Baptista, o autor da Philosphia Aristotelica Restituta, que o influenciará de forma decisiva, definindo-se então o seu interesse pela Filosofia Natural.
Em 1748 foi substituto do mestre encarregue do triénio de Filosofia, o pe. Luís José, cujo docência assegurou a partir de 1751. Neste mesmo ano saíram dos prelos os dois primeiros volumes da sua obra mais importante, a Recreação Filosófica.
A década de 1750 é a da plena afirmação de Teodoro de Almeida, que ganha prestígio crescente como pregador, mas sobretudo como escritor e divulgador de temas científicos. Os volumes da Recreação sucedem-se a ritmo veloz, publicando-se o sexto em 1762. Em 1752 o pe. João Baptista inicia as conferência de Filosofia Experimental - ou Filosofia Natural - na Casa das Necessidades, beneficiando do excelente equipamento de laboratório doado à Congregação por D. João V, nas quais o seu discípulo viria a ter papel de destaque. As conferências eram abertas ao público e foram um sucesso, chegando a registar mais de 400 assistentes, entre os quais o próprio monarca. Todavia o fenómeno ficou algo a dever à curiosidade de salão, sem que todos os que a ela assistiam pudessem ter a percepção do que estava realmente em jogo do ponto de vista científico.
Enquanto expoente desta popularidade da divulgação científica, Almeida foi alvo de várias críticas e polémicas, sendo acusado de desvios em relação à ortodoxia religiosa e de ser plagiário. De entre os que vieram em sua defesa salienta-se o jesuíta Inácio Monteiro, autor de uma obra importante obra pedagógica também.
Na década seguinte alguns dos Oratorianos mais influentes conheceram a perseguição de Pombal. Teodoro de Almeida foi forçado a exilar-se em 1768, continuando a desenvolver uma acção pedagógica importante em França. Regressou a Portugal em 1778, logo após o afastamento de Carvalho e Melo, embrenhando-se nos anos seguintes na revitalização do Oratório, na escrita e nos cursos.
É também um dos elementos do grupo que organiza a criação da Academia das Ciências de Lisboa, que se apresenta a público com uma Oração de Abertura de sua autoria, proferida a 4 de Julho de 1780; nela comparava o atraso do país em matéria científica ao reino de Marrocos, suscitando uma violenta reacção dos sectores intelectuais ligados ao pombalismo, expressa em várias cartas anónimas que vituperavam o orador e a nova Academia.
Continuou depois a Recreação, cujo plano editorial se concluiu com a publicação do volume X em 1800. Esta última fase é porém já dominada por um conservadorismo que reage às repercussões políticas do ideário das Luzes, que foi o seu numa primeira fase enquanto não pôs em causa a religião revelada e a ordem social vigente, à qual Teodoro de Almeida se encontrava fortemente vinculado, embora longe da sua componente ultramontana; manifestava-se sim contra os descrentes, pela conservação do seu ideário religioso, como antes de afirmara contra os escolásticos, pela renovação do ideário científico.
Da obra ficou sobretudo o grande projecto enciclopédico que foi a Recreação Filosófica (com os volumes I a VI sobre a Filosofia Natural, o VII sobre a Lógica, e os últimos três sobre a Ética e a Moral), complementada pelas Cartas Físico-Matemáticas (3 vols., 1784-1798), sendo aquela a obra que leva mais longe e ao mesmo tempo marca os limites das possibilidades da Ilustração católica portuguesa. Mas além destas deixou muitos mais escritos, como o Feliz Independente do Mundo e da Fortuna (3 vols., com 2.ª ed. corrigida em 1786), o mais celebrado dos seus livros sobre espiritualidade."
(Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p47.html)
Belíssima encadernação coeva inteira de pele, gravada com título e entalhes a ouro nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Raro.
50€

26 abril, 2025

MOURA, Engenheiro Horácio de -
UM ESTUDO SOCIAL : Movimento Nacional de Auto-Construção (ensaio).
Prefácio por S. Ex.cia Rev. ma o senhor D. Ernesto Sena Oliveira, venerando Arcebispo-Bispo-Conde de Coimbra. Coimbra, UCIDT - União Católica dos Industriais e Dirigentes de Trabalho, 1953. In-4.º (23x16 cm) de 215, [3] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Interessante trabalho de cariz social, tendo por objecto desenvolver planos para providenciar habitação própria aos operários e aos mais carenciados, tanto no meio rural como urbano, tendo por modelo o programa de (re)construção de habitações seguido por alguns países no pós guerra (1939-45), sendo aqui descritos o tipo de casa/bairros propostos, acompanhados de fotografias e (ou) plantas, bem como as zonas de implementação dos imóveis.
Ilustrado com inúmeras plantas e fotografias no texto.
"O Movimento Nacional de Auto-Construção (MONAC) surgiu no âmbito da União
Católica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho (UCIDT). Esta foi criada, em
1952, para responder ao pedido direto de Eugenio Pacelli, o Papa Pio XII, a Horácio de Moura numa das visitas que fez ao Vaticano, no sentido de mobilizar os leigos católicos para a resolução dos problemas habitacionais dos mais pobres. [...]
"O Movimento iniciou as atividades no distrito e na cidade de Coimbra, sendo
as primeiras experiências construtivas realizadas sem qualquer assistência do
Estado. Foram exclusivamente apoiadas e financiadas pelo arcebispo de Coimbra, Ernesto Sena de Oliveira, que foi considerado pela organização como o construtor n.º 1 do Movimento (MONAC, 1960). O Movimento define como estratégia a construção de 2500 fogos espalhados pelo País (Moura e Oliveira, 1953)."
(Fonte: Habitação: Cem anos de políticas públicas em Portugal (1918-2018). Coord. Ricardo Costa Agarez, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, Lisboa, dezembro de 2018)
"O mundo do trabalho é, a bem dizer, como fica recordado, um capital e um bem comum pertencente a dirigentes e dirigidos que a uns e outros interesse pôr a render largamente.
E essa é, repete-se, uma das grandes aspirações da UCIDT que, por todos os meios ao seu alcance, fugindo aliás à utopia de pretender igualar em tudo a condição e as situações dos homens, procura todavia aproximá-los, irmaná-los (eu ia para dizer... humanizá-los) cada vez mais pela prática crescentemente perfeita da justiça e da caridade.
No livro referido mostra-se quase à evidência e por maneira prática, como os operários de boa vontade, quando devidamente ajudados por patrões, industriais, dirigentes de trabalho e outras entidades públicas ou privadas, é possível e até relativamente fácil, não obstante a actual escassês dos seus recursos, a aquisição duma casa própria e privativa em condições e com requisitos capazes de fazer da sua vida familiar uma vida verdadeiramente himana que prende umas às outras as almas do mesmo lar e torna o viver comum uma autêntica atracção e delícia a que nenhuma outra se compara."
(Excerto do Prefácio)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa ligeiramente oxidada.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
35€

25 abril, 2025

FESTIVAL INTERNACIONAL DO PURO-SANGUE LUSITANO. III Campeonato Internacional : XI Campeonato Nacional Oficial do Cavalo Lusitano. [Homenagem a Fernando d'Andrade]. - Festas de Lisboa : 1991. Hipódromo do Campo Grande : 21, 22, 23 Junho. Lisboa, APSL : Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano, 1991. In-4.º (29,5 cm) de 70, [34] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história do Cavalo Lusitano impresso por ocasião do festival internacional dedicado ao cavalo de raça portuguesa, circunstância aproveitada pela organização para homenagear Fernando Sommer de Andrade, recentemente falecido. A última parte do livro é dedicado às coudelarias nacionais criadoras do Puro-Sangue Lusitano. Contém ainda um pequeno artigo  consagrado à Charanga a cavalo do RC da GNR, que só utiliza «Lusitanos».
Muito ilustrado ao longo do texto com gravuras e fotografias a p.b. e a cores, representando maioritariamente belos exemplares da raça.
"O actual lusitano é, como todos sabem, o ramo português daquele que foi célebre nos séculos XVII e XVIII, no Ocidente, com a designação de «Genet d'Espagne».
Conhecido desde a mais alta antiguidade (grutas de Pileta, Malaga, XX milénio A.C.); tido como melhor cavalo na época mitológica grega (Homero, Ilíada, mais de 1 000 A.C.), historicamente assinalado na Grécia (Xenofonte, Guerra do Peloponeso, 369 anos A.C.); valorizado como melhorador por excelência das pesadas raças cavalares do Império Romano, (Columela; Varrão; Paládio; Virgílio; Isidoro;........), foi o melhor cavalo de sela da antiguidade.
Os mouros ao entrarem na Península, reconhecem a superioridade dele em relação aos seus próprios cavalos, (Tarif Ben Tarick, século VIII da nossa Era).
Aperfeiçoado através das lutas constantes entre as diversas tribos Ibéras; entre Ibéros e outros povos de além fronteiras, invasores Cartagineses e Romanos; levado a combater fora da Península pelos mercenários na Grécia, na Itália e na Numidia, ele é, pode dizer-se, a própria essência da Gineta.
A Gineta é a forma de combate a cavalo por meio de evoluções apropriadas para o duelo com a lança contrapesada dos Ibéros (Gymnetes, tribo ibéra do SW da Península Ibérica).
A luta contra os Mouros, do oitavo século da nossa era até ao fim do décimo quinto século e à conquista de Granada, deu-lhe a sua forma definitiva.
Porque a Andalusia dispõe das melhores terras e do melhor clima para a criação cavalar; porque aí perdurou, até mais tarde, a selecção funcional do cavalo ginete, uma vez o último reduto da moirama peninsular, considera-se esta como o berço do cavalo ibérico de tipo sub-convexo, também conhecido como Cavalo Andaluz.
A Península Ibérica, designada pelos Romanos como Hispania, era composta por diversos reinos, cada um como o seu nome, (Leão, Castela, Navarra, Aragão, etc, e Portugal).
Portugal, independente desde 1147, partilhava, pois, com Aragão e Castela, o território Hispânico, em 1492. [...]
«Genet d'Espagne», Andaluz ou Espanhol é, pois, o mesmo cavalo que nós, portugueses, designámos até 1492, como «Cavalo Peninsular», sem mais, acrescentando-lhe a origem - Andaluz, Entremenho ou Português - e, somente quando os espanhóis impuseram a designação de Cavalos de Pura Raça Espanhola àqueles nascidos em Espanha e registados no seu stud book, nos vimos obrigados a designar os nossos como Lusitanos.
Como se sabe, a Lusitania era para os Romanos a quasi totalidade do actual território de Portugal.
O cavalo lusitano é, pois, o ramo português do velho «Ginete Ibérico».
(Excerto de O Cavalo Lusitano, por Fernando d'Andrade)
Índice: - O Cavalo Lusitano, Fernando d'Andrade. - Histoire du Cheval Iberique, Fernando d'Andrade. - The rise of the Lusitano Horse in Great-Britain, Sylvia Loch. - Esgrima de Lança à Gineta, Ruy d'Andrade. - Arte Equestre: Notícia das Festas que os Duques do Cadaval fizeram em 1720 na sua Quinta de Sintra, José Teixeira. - Escola Portuguesa de Arte Equestre, Guilherme Borba. - Programa. - Padrão da Raça Lusitana. - The Standard for the Lusitano Breed. - Modèle de la Race Lusitanienne. - Selecção Funcional dos Cavalos Novos, Fernando d'Andrade. - Regulamento.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
25€

24 abril, 2025

SAAVEDRA, José -
OS SEMI-LOUCOS NA PSICHIATRIA, NA SOCIEDADE, NAS LETTRAS
. Coimbra, Composição e Impressão Gráfica Conimbricense, Limitada, 1922. In-8.º (19,5x14 cm) de 246, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante estudo psiquiátrico sobre os "semi-loucos" e a sua intervenção nas diferentes áreas socio-culturais na época.
Raro e muito curioso.
Trata-se da tese de doutoramento em Medicina que o autor apresentou à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
O numero cada vez maior de casos de semi-loucura na sociedade con temporanea, só comparavel aos de syphilis - os dois maiores flagellos da humanidade e da raça - chamaram a minha attenção para o estudo deste capitulo da Psychiatria, tanto mais que a maior parte dos Tratados de Psychiatria ou a ella se não referem, ou a englobam no capitulo vago das degenerescencias, sem lhe precisarem os caracteres, nem salientarem a sua importancia, quer debaixo do ponto de vista medico, quer do ponto de vista social. [...]
Como julgar, realmente, de certas anomalias parciaes dos semi-loucos, se ellas se manifestam muitas vezes só na vida intima, conservando elles todas as suas faculdades intellectuaes, occultando com uma propositada e facil dissimulação durante o interrogatorio as taras de que o accusam?
O exame psychiatrico de um semi-louco tem de ser uma causa judicial em que o juiz é o medico especialisado nestes estudos e a acusação e defeza feitas pela sua entourage e peloo proprio doente.
Não basta pesquizar na sua historia taras mentaes e nervosas, tão frequentes em toda a gente, para justificar um diagnostico à outrance, de semi-loucura.
É mister attender a multiplos factores d'ordem moral, familiar, conhecer o meio em taes factos se passaram, curar de saber quaes as razões que possam justificar ou condenar esse acto.
A interdicção e internamento destes doentes nos manicomios em contacto com loucos completos, por simples certificado medico, as mais das vezes com conhecimento incompleto do doente, apaixonam vivamente a opinião publica, dando logar a pleitos, facilmente evitaveis com um conhecimento mais completo da semi-loucura e com a fundação de estabelecimentos proprios para estes doentes."
(Excerto do Prefacio)
"A semi-loucura é um estado mental intermedio á loucura e á saude mental.
A definição, com quasi todas as da biologia, não tem um rigor mathematico, nem limites precisos. O proprio nome, para designar os estado pathologicos que adeante descrevo é impreciso e incompleto.
Mas como poderá um nome composto de duas palavras exprimir exactamente o que leva muitas paginas a descrever?"
(Excerto de I - Demonstração da semi-loucura)
José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra (1895-1961). "Professor da Faculdade de Medicina. Naturalidade - Canidelo (Vila Nova de Gaia), 10.12.1895-?  Filiação - José Maria Rodrigues da Ascensão e Maria Emília da Ascensão Pinto da Cunha Saavedra. Matriculas - Medicina, 1912. Graus - Doutor, 20.7.1922. Cadeiras - Clínica e Policlínica Médicas (1919-1926), 2.º assistente. Observações - Abandonou a docência em 1926, para seguir a carreira de médico militar. Publicações - Os semi-loucos na psiquiatria, na sociedade e nas letras (Coimbra, 1922)."
(Fonte: https://www.uc.pt/org/historia_ciencia_na_uc/autores/SAAVEDRA_josenevildeascensaopintodacunha)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral com excepção da lombada que se apresenta falha do revestimento. Em falta três folhas no início do livro: f. ante-rosto e a as que sucedem à f. rosto, sem prejuízo do ensaio propriamente dito, já que são folhas "menores", sem relevância para a obra.
Raro.
35€

23 abril, 2025

RIBEIRO, Fernando Curado -
DIÁRIO DUMA VOZ...
Inconfidências, Críticas, Programas, Entrevistas. Porto, Editora - Livraria Progredior, 1947. In-8.º (19x13 cm) de 263, [1] p. ; [6] f. il. ; B.
1.ª edição.
Livro de memórias de Curado Ribeiro, conhecido actor português e homem da rádio, cuja voz inconfundível acompanhou milhares de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Ilustrado com 6 folhas separadas do texto.
Exemplar muito valorizado pela sua dedicatória autógrafa a António Miguel.
"Este livro não tem intenções literárias. Escrito a correr, respigado aqui e acolá, deste ou daquele apontamento, deste ou daquele papel esquecido, é um conjunto de ideias nascidas dos passos de um trabalho feito ao microfone ou por ele sugeridas.
Escrevi-o aos tombos, na mesa da locução ou sobre os tampos dos planos, à pressa, arrastado pela paixão da Rádio, na exiguidade de tempo de um homem que é simultâneamente locutor, cantor, produtor radiofónico, actor e jornalista."
(Excerto do Prefácio)
Fernando Teixeira Curado Ribeiro (Lisboa, 1919-1995). "Estudante de engenharia, dotado de boa figura e voz romântica, começou a cantar nos serões académicos do Instituto Industrial e acabou por trocar a engenharia pelas canções: em 1938 ingressa na Emissora Nacional, como cançonetista do conjunto Excêntricos do Ritmo. Em 1940 passa a locutor. Ainda cantou durante uns anos, mas a Emissora Nacional achou que quem cantava não poderia ler notícias sérias – e a vontade de fazer rádio foi preponderante. E foi a bela voz na rádio que despertou a atenção de Milú quando soube que Arthur Duarte procurava um galã para o filme “O Costa do Castelo”. Falou-lhe nele – e Curado Ribeiro acabou contratado ‘dez minutos depois de entrar no gabinete do realizador’, segundo o próprio actor confessou em entrevista, quarenta anos volvidos. Sem abandonar a rádio, Curado Ribeiro vai fazer uma série de filmes de seguida. Entretanto estreia-se no teatro – a cantar – na revista “Festa Rija”, em Novembro de 1944, no T. Avenida."
(Fonte: https://cinemaportuguesmemoriale.pt/Pessoas/id/3014/t/fernando-curado-ribeiro)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos, e pequena mancha no pé que se prolonga pelas primeiras páginas do livro.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e radiofónico.
25€

22 abril, 2025

RIBEIRO, Herlandér - RÚSSIA BOLCHEVISTA. Por...
Lisboa, Depositaria Livraria Moraes [selo], 1928. In-8.º (22x16 cm) de 134, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante estudo sobre a Rússia de Lenin saída da Revolução de Outubro (1917), a Rússia socialista que defendia a ditadura do proletariado.
Herlander Ribeiro (Lisboa, 1886-1967). "Advogado, investigador de temas jurídico-sociais, jornalista e memorialista. Iniciou-se no jornalismo, em Lisboa, no jornal A Luta e logo em 1901 via editado o seu primeiro livro, um romance que antes fora publicado em folhetins. Em 1903, foi um dos fundadores da Associacão da Imprensa Portuguesa. É também nesse ano que parte para Coimbra a fim de cursar Direito, apresentando-se na Universidade já com um estudo jurídico-social publicado: A Vadiagem em Portugal. Terminou o curso de Direito em 1908. Em 1911 é o autor de um projecto de Reforma da Polícia de Investigação Criminal. De 1916 a 1926 exerceu em Lisboa o cargo de juiz substituto, devendo-se-lhe os projectos de um Código do Trabalho e de um Código Agrário que veio a publicar mais tarde. Viajante incansável, percorreu toda a Europa e o Norte de África e fez duas vezes a volta ao Mundo. Escreveu numerosas crónicas e alguns livros com os resultados das suas observações nessas viagens. A preocupação com as condições sociais dos menos afortunados, nomeadamente dos trabalhadores, levou-o a insistir em estudos sobre a Rússia e a China, países que visitou."
(Fonte: http://livro.dglab.gov.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=9603)
Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Capas envelhecidas, algo sujas, com defeitos. Assinatura de posse na f. rosto. Com falhas de papel na lombada. Interior correcto.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
20€

21 abril, 2025

PEREIRA, Isaías da Rosa -
VISITAS PAROQUIAIS NA REGIÃO DE TORRES NOVAS (SÉC. XVII-XVIII).
Colecção Temas Torrejanos. Torres Novas, Edição Serviços Culturais Câmara Municipal de Torres Novas, 1992. In-8.º (20,5x15 cm) de 87, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Importante estudo sobre os procedimentos do Clero na zona de Torres Novas. Trata-se de dois artigos antes publicados, respectivamente, na revista Lumen (MS 148 - 1964) e Revista da Faculdade de Letras (MSS 506/526 - 1973).
Ilustrado no texto com quadros e tabelas.
"As visitas paroquiais constituem documentos históricos de inestimável valor. [...]
O Livro n.º 148 inclui nove visitas à Igreja de Sant'Iago de Torres Novas entre os anos de 1677 e 1756. Procurei extrair dele os nomes de alguns párocos da época, nomes de visitadores com os respectivos cargos e as Irmandades a que se fazem referências.
As visitações contidas nos MSS 506 e 524 são do ano de 1760 e fornecem elementos mais abundantes para a história da Vila de Torres Novas e da região. Agrupei-os nos seguintes títulos: estatística da população; vida do clero; remunerações; cultura, comportamento, distribuição do clérigos pelas paróquias; existência de casas religiosas e misericórdias; confrarias ou irmandades; estado dos templos; modo de nomeação dos párocos."
(Excerto da Introdução)
"Ninguém ignora o grande interesse que possuem os livros de visitas paroquiais. Além da notícia histórica da passagem do Bispo, ou do delegado, na sua missão de Pastor, dão-nos uma ideia da vida das paróquias, com as suas tradições, costumes e cultura, o seu fervor e os seus defeitos. E têm não menor interesse para a toponímia, a arqueologia, a liturgia e o direito canónico."
(Excerto de Livro dos Capitulos da vesita da Igreja de São Tiago da Villa de Torres Novas que começa no anno de (1)677)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Com interesse histórico e regional.
20€

20 abril, 2025

VIEIRA, P. Antonio -
SERMAM // DE S. IOAM // BAPTISTA. // NA PROFISSAM // Da Senhora // MADRE SOROR MARIA DA CRVZ, // Filha do Excellentissimo // DVQUE DE MEDINA SYDONIA, // SOBRINHA DA RAINHA N. S. // Religiosa de Sam Francisco. // No Mosteiro de Nossa Senhora da // Quietaçaõ das Framengas. // Em Alcantara. // Esteue o SANCTISSIMO SACRAMENTO exposto. // Assistiraõ suas MAGESTADES, & ALTEZAS. // PREGOVO O P. ANTONIO VIEIRA // da Companhia de IESV. Prégador de S. Magestade. //
EM LISBOA. COM TODAS AS LICENC,AS // Na Officina de Domingos Lopes Rosa. Anno 1644. In-8.º (19,5x14 cm) de [32] p. (inc. frontesp.) ; B.
1.ª edição.
Sermão do Padre António Vieira escrito a propósito da Profissão Perpétua de Soror Maria da Cruz, abadessa do Convento de Nossa Senhora da Quietação, sobrinha da rainha D. Luísa de Gusmão, mulher de D. João IV.
São muito raros e apreciados os sermões do insigne jesuíta, sobretudo os que, como é o caso, foram proferidos (e publicados) no contexto e sequência da Restauração da independência nacional.
"No dia em que nace a Voz de Deos, justamente emudecem as vozes dos homês. Admiraçoês emudecidas saõ a retorica deste dia: mirati sunt unisersi. Pasmos, & assombros saõ as eloquêcias desta acção: Factus est timor super omnes vicinos eorum. He dia hoje de falarem os coraçoês, & de callarê as ,lingoas: por isso a lingoa de Zacharias emudeceu, por isso os coraçoens dos Montanhezes fallauaõ. Posuerunt in corde suo discentes. E se em qualquer dia do grande Baptista he perigoso o fallar, & os discursos mais discretos saõ os que se remetem ao silencio; que sera hoje no concurso de tantas obrigaçoens em que as causas do temor, & os motivos da admiração se vem taõ crecidos? Se toda a razão dos assombros no nacimento do Baptista era verem que daua Deos a hua alma a mão de amigo. Et enim manus Domini erat cum illo; Quanto mais deue assombrar hoje nossa admiração ver q dà Deos a outra alma a mão de Esposo: Et enim manus Domini erat cû illa?"
(Excerto do Sermão)
Soror Maria da Cruz nasceu algures no final da década de 1620, provavelmente, em ou perto de Sanlúcar (Andaluzia), a sede dos duques de Medina Sidónia. O seu pai era Gaspar de Guzmán y Sandoval, 9.º Duque de Medina Sidonia (1602-1664), mas a identidade da sua mãe permanece desconhecida. A tia paterna dela foi Luísa de Guzmán (1613-1666), Rainha de Portugal 1640-1666. Irmã Maria juntou-se à tia quando esta foi para Portugal em 1633 para se casar o duque de Bragança, futuro rei de Portugal. Em Vila Viçosa (Alentejo), Luísa de Guzmán foi viver para o palácio ducal e Soror Maria da Cruz foi estudar para o vizinho convento franciscano das Chagas. Em Dezembro de 1640, Soror Maria mudou-se para Lisboa com a recém-proclamada família real onde ingressou no convento franciscano de Nossa Senhora da Quietação em Alcântara (BELÉM 1758: 546). Ela fez a sua profissão perpétua em 1644 com a presença da família real e em que o Padre António Vieira, o célebre jesuíta, pregou (VIEIRA 1644). Este convento recebeu fundos reais e confinava com a Quinta de Alcântara, uma das residências privilegiadas do novo família real (CASTELLO BRANCO 1971: 50-79; COSTA, CUNHA 2008: 169; COSTA 1712: 650). A própria Soror Maria recebia 40 mil réis por ano da Casa de Bragança - o património dos duques de Bragança (BA, Homem., 51-X-17: fls. 214). Foi dentro deste convento que provavelmente a Irmã Maria passou algum tempo com duas das suas primas, as infantas Dona Joana (1635-1653) e Dona Catarina (Catarina de Bragança 1638-1705, Rainha-consorte de Inglaterra (1662-1685), e onde ela acabaria por acolher diplomatas estrangeiros e dignitários. Foi neste convento que ela acolheu a rainha consorte francesa Maria Francisca de Sabóia (1646-1683) quando chegou em 1666 para casar com Afonso VI (1643-1683), Rei de Portugal (1656-1683)."
(Fonte: James, Ben - Two Marias: Illegitimacy and Agency on the fringes of  the Restoration Cour, Palácio Nacional de Sinta, 2024)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Envelhecido. Aparado, porém, nunca atingindo o texto. Mancha amarelada de humidade, desvanecida, transversal a todo o opúsculo. Com falhas e pequenos defeitos marginais. Protegido por capas lisas em papel celofane.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
Peça de colecção.
150€

19 abril, 2025

DANTAS, Julio - CRUCIFICADOS
. Lisboa, Manoel Gomes, Editor, MDCCCCII [1902]. In-8.º (20x13 cm) de [8], 136 p. ; B.
1.ª edição.
Edição original desta obra "licenciosa" de Júlio Dantas - "Peça em 4 actos, representada pela primeira vez em janeiro de 1902, no Theatro D. Amelia", - que deu brado na época. Trata-se de um drama social onde, pela primeira vez no teatro nacional, é abordado o tema da homossexualidade, com o relacionamento de dois protagonistas, circunstância que terá provocado perplexidade e repugnância a importante franja do meio literário e social. "Após uma tumultuosa estreia, Júlio Dantas retira a peça de cena, alterando-a".
Peça rara e muito curiosa, por certo com tiragem reduzida. Seria republicada mais tarde, em 1914 (2.ª ed.) e na década de 20 (3.ª ed. refundida).
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrada do autor "Ao grande politico, orador e homem de lettras Sr. Conselheiro José Maria de Alpoim".
"Um interior modesto de solteirões, em pleno Bairro Alto. Casa velha da rua da Atalaya: rodapé baixinho de azulejos; sacada de taboinhas. Porta para a escada; silhar de tijolos; vê-se o corrimão, descendo. Estante de livros; papeleira; cadeiras de sóla. O ar desaconchegado das casas onde não ha mulheres. Um sophá. Perto, uma mesa de trabalho: livros, papeis, grande castiçal, com pára-luz de seda côr de rosa."
(Primeiro Acto - sinopse)
Júlio Dantas (1876-1962). "Figura destacada da actividade social, política e cultural durante as seis primeiras décadas do século XX. O elevado número de cargos (Comissário do Governo junto do Teatro Nacional, Director e Professor da Secção Dramática do Conservatório Nacional, Inspector das Bibliotecas Eruditas e Arquivos) e funções políticas que desempenhou (Senador, Deputado em diferentes legislaturas, Ministro de várias pastas – Instrução Pública e Negócios Estrangeiros – em diversos Governos, Presidente do Partido Nacionalista, Membro da Comissão de Cooperação Intelectual da Sociedade das Nações) compete com o número de títulos que publicou em vários géneros literários: romance, conto, poesia, teatro, crónica, oratória, ensaio.
Os seus escritos revelam uma predilecção pelo século XVIII, tempo a que dedicou alguma veia ensaística em O Amor em Portugal no Século XVIII (1915) e onde se situa a acção de muitas das suas peças de teatro mais emblemáticas: A Severa, 1901; A Ceia dos Cardeais, 1902; Um Serão nas Laranjeiras, 1904; Sóror Mariana, 1915.
Em 1908, após concluir a licenciatura em Medicina, é admitido como sócio na Academia de Ciências de Lisboa, instituição que virá a presidir, a partir de 1922, durante décadas. Ao abandoná-la, invocou este exercício de cargos públicos cuja profusão acumulativa, aliada à sua ligação à Academia - que incorporava tudo o que «os novos» desprezavam - fizeram dele um alvo privilegiado dos ataques de renovadores e vanguardistas.
De facto, o seu academismo literário encontra-se bem patente na formalização dos seus escritos; a Ceia dos Cardeais (1902), por exemplo, um dos seus maiores sucessos nacionais e internacionais (conta com mais de 50 edições, e foi traduzida para mais de uma dezena de línguas), foi composta em alexandrinos emparelhados. A maioria do seu teatro revela alicerces românticos, sobretudo na temática de cariz histórico e da mitologia nacional, com a idealização da história pátria como pano de fundo de uma idealização do amor, de pendor saudosista, não deixando de imprimir um cunho fortemente anticlerical (Santa Inquisição, de 1910), vacilando entre o sentimentalismo romântico, o grotesco e a sátira. Não é avesso, porém, a experimentar correntes novas, como o realismo/naturalismo decadentista de Crucificados (1902), com aspirações a drama social, que pretende retratar uma actualidade degenerada, causa e vítima de promiscuidade e doença."
(Fonte: https://modernismo.pt/index.php/j/206-julio-dantas-1876-1962)
Belíssima encadernação meia de pele com cantos e ferros gravados a ouro nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura originais. Aparado e carminado à cabeça.
Exemplar em bom geral estado de conservação. Lombada apresenta uma ou outra falha de pele, com pouco impacto visual. Capas de brochura frágeis, manchadas, com pequenas falhas de papel.
Raro.
Peça de colecção.
75€

18 abril, 2025

MOSER, Jorge de -
D. MANUEL LOPES SIMÕES, décimo quarto Bispo de Portalegre (breve esboço biográfico).
Separata do Boletim N.º 2 "Cascais e seus lugares" Julho 1947. Cascais, Junta de Turismo, 1947. In-4.º (24,5x19 cm) de 25, [3] p. ; [5] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Subsídio biográfico de D. Manuel Lopes Simões (1676?-1748), Bispo de Portalegre, natural de Cascais.
Livro impresso em papel de superior qualidade, ilustrado em página inteira com o "Esquema genealógico materno de D. Manuel Lopes Simões"; "Fac-símile da assinatura de D. Manuel Lopes Simões"; "Reprodução do selo de D. Manuel Lopes Simões, quando Protonotário Apostólico e Bispo Nomeado de Portalegre"; "Reprodução do selo de D. Manuel Lopes Simões, quando Bispo de Portalegre", e em separado com 5 estampas, sendo uma delas o retrato do biografado e outro de D. João V, e as restantes, a "Casa da Quinta da Bemposta, na estrada que vai de Portalegre para Castelo de Vide", a "Igreja, ou capela do Espírito Santo, em Portalegre", e a "Fachada principal da Sé de Portalegre".
Tiragem de 100 exemplares, tendo sido entregues 75 ao autor.
Junta-se lista (em três folhas), batida à máquina, dos exemplares ofertados por Jorge de Moser a entidades e pessoas das suas relações.
"Talvez nenhum outro natural de Cascais mais pudesse prender a nossa atenção do que D. Manuel Lopes Simões, 14.º Bispo de Portalegre,  personagem que, indubitàvelmente, se revestiu de grande importância, no seu tempo, mas, seja mercê de factores ignorados, seja mera resultante da incúria dos homens, tem sido votada a um quase completo esquecimento.
Não obstante as aturadas pesquisas a que procedemos, mau grado as inúmeras boas vontades com que deparámos, pouco, muito pouco conseguimos apurar acerca deste venerando Prelado, mas nem assim esmoreceu o nosso desejo de delinear uma ligeira biografia que, oxalá, mais tarde, possa vir a ser desenvolvida condignamente."
(Excerto da Abertura)
Índice:
[Abertura] | O meio, a família e os primeiros anos | Os estudos universitários | Vigário de Óbidos e Ministro da Cúria Patriarcal | O Bispo de Portalegre e a sua morte | O retrato de D. Manuel Lopes Simões | Os brasões do prelado | Nota final | Notas.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
15€

17 abril, 2025

RODRIGUES, Augusto -
O ABADE FARIA NA REVOLUÇÃO FRANCEZA. Lisboa, Casa Editora Nunes de Carvalho, [19--]. In-8.º (21x14,5 cm) de 372 p. ; [9] f. il. ; B.
1.ª edição.
Capa de João José.
Interessante romance, espécie de policial histórico em tempos de Revolução Francesa, com a participação de conhecidas figuras da época, como o Dr. Casanova e o Abade Faria.
Raro e muito curioso. Nada foi possível apurar acerca desta obra, dado não existirem quaisquer referências bibliográficas sobre a mesma.
Livro ornamentado com bonitas capitulares, florões e vinhetas tipográficas em cada um dos capítulos, bem como 9 belíssimas estampas de Silva e Souza intercaladas no texto.
"José!
- Diz, Margarida!
- Não te parece que está ali, sobre a relva do bosque, um homem prostrado?...
- Tambem me parece...
«Algum vagabundo»!
- No entanto julgo que o seu vestuario é o dum gentilhomem!
José afirmou-se:
- E tem a espada sobre  coxa!
«É exquesito!...
«Ou está ébrio, como já tenho visto alguns, nesta devassa terra, ou é vitima d'algum duelo, sem testemunhas...
Margarida ajuntou:
- Ou dum ataque de salteadores...
- Tudo é possivel!
«Mas urge que eu lhe acuda!
«Fica tu na estrada para mandares fazer alto a qualquer carruagem que passe, no caso de ser preciso..."
(Excerto do Cap. I - Sanson-la-Mort)
"Dai a pouco, paravam, deante dum elegante palacete, de dois pisos, com jardim que o cercava por três lados e com frontaria para a rua.
Esta, que tinha o poético nome de «Fonte-que-chora» era bastante deserta no seculo XVIII.
Apenas algumas casas fidalgas com os seus parques e jardins que as separavam, e no lado norte, uma extensa fila de construções monotonas, todas de tijolo encarnado e habitadas por gente pobre e um ou outro burguês mercador.
Mas era uma rua de pouco transito e a quietação de visinhança agradou a José de Faria porque o deixava estudar e trabalhar com socêgo."
(Excerto do Cap. II - Vocação macabra)
Exemplar em brochura, bem conservado. Com manchas de oxidação dispersas pelo livro.
Raro.
Sem registo na BNP.
45€
Reservado

16 abril, 2025

SOARES, Maria Micaela -
LITERATURA SALOIA
. [S.l.]Ramos, Afonso & Moita, Lda., 1993. In-4.º (24x17 cm) de 69, [15] p. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Curioso ensaio histórico e etnográfico publicado em separata de «Etnografia da Região Saloia» - A Terra e o Homem.
Ilustrado com um mapa - Distribuição provisória da alcunha saloio no distrito de Lisboa, e 10 páginas ilustradas: duas gravuras em página inteira - uma a cores e a outra a p.b., e 21 fotografias a p.b. distribuídas por oito páginas.
"Este título, obviamente arbitrário e porventura equívoco, não pretende sustentar que exista ou tivesse sido recolhida, na sondagem realizada, qualquer espécie de Literatura com características exclusivamente saloias. [...]
Contactaram-se tanto indivíduos escolhidos previamente como os descobertos ao acaso nas praças, estradas e locais de trabalho.
Destas abordagens, emergiram três hipóteses de estudo, as quais se desenvolverão em próximas campanhas:
a) A encarnação da alcunha Saloio parece alargar-se a uma área que se situa mais para norte e mais para leste das zonas consagradas, aparentando serem agora pouco definidos os contornos que a tradição impôs.
b) Este assumido Saloio, com raras excepções, tem consciência do motivo da sua designação.
c) Não se escandaliza já por assim ser apodado, mostrando, ao invés, um certo orgulho narcísico pelo facto. «Felizmente», «graças a Deus», «com muita honra» e «com muito orgulho» são algumas das ênfases com que coroa as suas afirmações de saloismo. «Saloios chapados» se definem às vezes.
Para a maioria, Saloio é o «homem que trabalha no campo». Mas não todo e qualquer camponês. Os do Minho ou do Alentejo, por exemplo, «ficam muito longe de Lisboa».
«Camponeses dos arredores de Lisboa» se dizem, pois. Genial intuição que a Ciência corrobora. «Há os da cidade e há os Saloios» - confirmam -, havendo ainda os «atravessados», misto de «Saloios e Alfacinhas» - especificam.
Foi entre estes camponeses não muito distantes de Lisboa - e, aqui, a noção de distância é pouco objectiva - que se procedeu à recolha dos espécimes literários ora divulgados."
(Excerto da Introdução)
Índice do texto:
Introdução | Elenco documental | Poesia profana | Poesia religiosa | Lendas pias | Loas para o círio a Nossa Senhora dos Remédios | Rezas | Fábulas, histórias, contos | Comentários aos textos | Bibliografiia.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
20€