26 outubro, 2023

MESNIER, Pedro Gastão -
O JAPÃO : estudos e impressões de viagem.
Por... Macau, Typographia Mercantil, 1874. In-8.º (22x14 cm) de XX, [2], 355, [5] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Importante contributo para a história do Japão contemporâneo como nação emergente e, tal como a China, a dar os primeiros passos no processo de abertura ao Ocidente. Escrito algumas décadas antes do estabelecimento de Wenceslau de Moraes no país, que descreveu com mestria, este é um dos mais interessantes contributos históricos escrito por um cidadão português sobre o país do Sol Nascente. Inclui largas referências à passagem - e influência - dos portugueses pelo império nipónico.
Livro impresso em Macau, ilustrado com caracteres chineses (poesia) e, no final, com tabelas e quadros estatísticos.
"Dedicada ao Visconde de S. Januário, ministro plenipotenciário de Portugal nas cortes do Sião, China e Japão, esta obra constitui eventualmente o ex-libris entre os trabalhos de reconhecimento do Japão recém-aberto aos contactos internacionais. Memória da embaixada que em finais de 1873 S. Januário encabeçou, transporta também uma reflexão profunda sobre as relações entre o Ocidente e o Oriente. Declarado admirador das reformas ocidentalizantes do mikado, pressentia o poder decisivo que o arquipélago desempenharia nas décadas subsequentes. - Contém: notícias do Japão, da Antiguidade aos contactos com os europeus; carácter do povo nipónico, suas instituições morais, religiosas e políticas; visita a Nagasáqui; os portugueses no Japão (1541-1610); Kobe; Osaka: divertimentos, artes, os últimos samurais; Yedo -Tóquio: templos Xintoístas, palácios, bosques, a nova elite dirigente, os divertimentos; o sistema de crenças; fisionomia e trajo dos japoneses; audiência dada pelo imperador à embaixada portuguesa. - Em anexo, glossário de “palavras asiáticas”, bem como quadros sinópticos da divisão territorial do Japão, cronologia de imperadores, tábua cronológica dos Shonguns e constituição da família imperial.
De 1860 aos anos 30 do século XX, o Japão converteu-se numa nação fortemente ocidentalizada. Coube a Pedro Gastão Mesnier (1846-1884) lavrar testemunho das profundas alterações em curso no país. Integrando a embaixada do Visconde de S. Januário, pode aperceber-se do triunfo do xintoísmo e do culto rendido ao imperador - cuja linhagem divina ascenderia até Amaterasu, deusa do Sol - mas também do colapso dos samurais e ascensão dos grandes barões monopolistas do comércio e da indústria zaibatsu. O Japão seguia velozmente a via ocidental e era já considerado, em meados de 1880, um aluno exemplar, havendo quem o brindasse como “a Inglaterra da Ásia”, que décadas depois Haushoffer – o mago da geopolítica – corrigiria para a de “Prússia do Oriente”."
(Fonte: https://purl.pt/711/1/japao/jp-05.html#)
"Nunca me acompanhou a pretensão de esgotar o assumpto de que trata a obra presente, durante todo o decurso de tempo em que escrevi este livro. [...]
Tive especialmente em vista, quando escrevi, os meus patricios de Portugal, para quem a maior parte das cousas relativas ao Japão são novidades; os meus patricios de Macau, e d'estas regiões, relevarão portanto o que para elles não passará de logares communs.
Emquanto ás impressões que exponho, é possivel que muitas pessoas que viajaram no Japão, não as sentissem analogas, mas isso lhes não dará o direito de duvidar da sinceridade das minhas.
Por experiencia, tenho conhecido que a simples verdade, em todas as cousas d'arte, tem sempre a vida que é o principal predicado da belleza, e que é em vão que se procura a formosura litteraria nas formulas rhetoricas. Com alma que sente bem, e penna que reproduz exactamente esses sentimentos, se fazem os bons escriptores.
Procurei restringir-me sempre á mais exacta reproducção das cousas que presenciei; é certo que não vi tudo, e que muitas vezes não vi bem. A arte de ver é talvez a mais difficil d'este mundo, e não presumo ser mestre n'ella."
(Excerto do Prefacio - Ao limiar)
Índice:
Prefacio | Erratas | I - A descoberta. Observações geraes. II - Nagasaki. III - Os portuguezes no Japão, 1541-1640. IV - O mar interior. V - Hiogo-Kobe. VI - Osaka. VII - O valle d'Oitz. VIII - A lenda de Tajamir. IX - Yeddo - En-rio-kan. X - Yeddo - O-tamaya. XI - Uiéno. XII - Yeddo - As casas de Chá. XIII - Asaka. XIV - Physionomias e trajos. XV - Folhas caídas do feudalismo XVI - A audiencia. XVII - Ultimas excursões | Glossario de palavras asiaticas | Appendices e notas.
Pedro Gastão Mesnier (1846-1884). "Erudito e homem de acção cuja aura romântica o equiparava a um moderno Fernão Mendes Pinto, no entender de Manuel da Silva Gaio e dos seus amigos literatos de Coimbra, fugia decididamente aos cânones da sua época. [...]
A ansiedade de conhecer o Oriente fê-lo embarcar para Moçambique e daqui para a Índia, onde “obtivera por influência de seu pai, um despacho para condutor das obras públicas de Goa”, tendo sido também “professor de física e química na escola militar de matemática de Goa”. Contudo, uma “revolta do exército indígena” e a ocupação do arsenal, foi a oportunidade soberana para Pedro Gastão Mesnier mostrar as suas qualidades em acção. Por incumbência do Visconde de S. Januário, Governador-Geral da Índia (1870-1871), cujo secretário era o poeta Tomás Ribeiro, foi encarregado de “apreender esses quatro canhões às proximidades de Hari-Bandar”. A missão foi bem sucedida, tendo “praticado actos de verdadeiro heroísmo”, relatados no “Times of India”. [...]
A sua obra vai aparecendo. O “Idyllio” é publicitado pela Typographia Mercantil e custava 50 avos, em 1874. Outro livro, desse mesmo ano, “O Japão: estudos e impressões de viagem”, será muito bem recebido por Antero de Quental que escreveu na “Revista Ocidental”, “há muito tempo que em língua portuguesa se não publica relação de viagem tão interessante, tão cheia de novidade e ensino, como esta”. Antero informa-nos ainda que “os ingleses de Hong Kong, juízes competentes em tal matéria, dando ao livro do viajante português as honras de uma tradução, que apareceu na China Review, importante revista que se publica naquela cidade”.
Em 1878 segue novamente como secretário do Visconde de S. Januário, numa missão diplomática na América do Sul que incluía a Argentina, a Bolívia, o Brasil, adoecendo gravemente no Paraguai. Regressa combalido a Lisboa, procurando na escrita e no jornalismo algum conforto e algum sentido para uma vida cada vez menos aventurosa. [...]
A doença fazia o seu caminho inexorável. [...] Era o fim de um atleta que "atravessou o Tejo a nado, a 12 de Agosto de 1875, desde o Terreiro do Paço até ao pontal de Cacilhas, em competição com o sr. Alfredo Ansur, que cansou a meio da travessia"."
(Fonte: https://jtm.com.mo/opiniao/pedro-gastao-mesnier/)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar impresso em papel encorpado em bom estado geral de conservação. Coifa superior com danos na pele. Algumas (poucas) páginas apresentam acidez.
Raro.
Com interesse histórico.
Indisponível

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