08 abril, 2019

DIAS, Urbano de Mendonça - O SOLAR DA CASTANHEIRA. [S.l.], Emp. Tip Ltd. de Vila-franca do Campo, 1931. In-8.º (19,5 cm) de 266, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Obra publicada em Vila Franca do Campo, S. Miguel (Açores).
Romance histórico de cariz regional que retrata as desinteligências de dois ramos de uma tradicional e influente família açoriana - miguelista uma, liberal a outra - ao longo da segunda metade do século XIX, que D. Miguel - o protagonista -, neto do Morgado da Castanheira, procura sanar.
"O Morgado Mateus, mal viu luzir o buraco levantou-se, vestiu-se e foi para a quinta passear.
Mal tinha conseguido dormir nada em quasi toda a noite, com insonias; deitara-se tarde, de estar a conversar com o neto, que chagara na vespera formado de Coimbra, e isso fizera-lhe mal: revirava-se na cama, acendera a luz por duas vezes e maçado, aborrecido, levantou-se então.
A manhã vinha abafadiça, eram as calmas de setembro, mas o Morgado sentia-se bem na alameda de carvalhos, que liga o velho Solar de seus Avós, ao mirante que tinha sobre a rocha, a cincoenta e tantos metros acima dum pequeno areal, onde o mar se espalha. E ali, sob os ramos fechados das carvalheiras copadas, ficou a passear por muito tempo.
O feitor, o João Tomé, não lhe estranhou a madrugada, aquilo era costume e com o rancho dos trabalhadores entrou na alameda. [...]
O João Tomé era também já velho, contava quasi setenta anos; era alto, rosado, alma lavada, o arcaboiço largo, vendia saude. Na Quinta, os trabalhadores chamavam-lhe - o Boi - pela sua força e corpulencia.
 - Lá vem o Boi, diziam eles: - e o João Tomé despontava então do atalho, pesado, manso, a dar as suas ordens.
Fora impedido do Morgado no tempo das lutas do senhor D. Miguel, em que ambos andaram envolvidos; estiveram no cerco do Porto, fizera toda a campanha legitimista. [...]
O Morgado Mateus do Amaral pertencia á velha nobreza legitimista, por cujo ideal se  bateu nos campos de batalha, até ficar vencido.
Nunca desanimou; na vanguarda dos seus batalhara sempre, numa fé segura, que o prestimava e enobrecia, até que, assinada a Convenção de Evora-Monte, epilogo dessas sucessivas traições que abastardaram a Patria, voltou então á terra, dobrou a sua farda de capitão, chamuscada dos combates e internou-se naquela sua quinta da Castanheira, a tres quilometros da Vila, sobre o mar, com dez moios de terra de semeadura, pomar e vinha e fez-se lavrador."
(Excerto do Cap. I, O Solar da Castanheira)
Urbano de Mendonça Dias (Vila Franca do Campo, 1878 - Vila Franca do Campo, 1951). "Jurista, pedagogo, escritor e político açoriano, autor de diversas obras sobre a história dos Açores e temas de cultura popular. Fundou a primeira instituição de ensino pós-primário em Vila Franca do Campo, o Externato de Vila Franca, onde ensinou. Foi administrador do concelho e exerceu diversos cargos autárquicos e na direcção de diversas instituições, incluindo o de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo."
(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Contracapa com rasgão, alvo de restauro grosseiro.
Raro.
Indisponível

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