11 abril, 2022

RIBEIRO, Joaquim Pedro Victorino - SOCCORROS DE URGENCIA (breves notas)
. Porto, Imprensa Nacional, 1910. In-8.º (22,5 cm) de 74 p. ; B.
1.ª edição.
Dissertação inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Importante contributo para a história dos cuidados de saúde relacionados com a estabilização e prestação de primeiros socorros levados a cabo em situações de emergência no exterior dos hospitais, cujos procedimentos se mantêm actuais ainda hoje.
"No Porto, em 1910, Pedro Vitorino Ribeiro, com uma brilhante tese intitulada Socorros de Urgência (Breves Notas) apresentada à Faculdade de Medicina do Porto opina esclarecidamente acerca da Urgência extra-hospitalar. [...]
Como outros hospitais em Portugal o Hospital Geral de Santo António sempre se viu envolvido em acções de Urgência Extra-hospitalar. Como Hospital Universitário foi escola de muitos clínicos e proeminentes figuras, de entre eles o Dr. Joaquim Pedro Vitorino Ribeiro, que apresentou a sua dissertação em 1910 denominada «Socorros de Urgência (Breves Notas)» onde relatou a necessidade e as vantagens da organização dos serviços de cuidados de emergência. (Bandeira 1995): «Apresentada como dissertação inaugural à Faculdade de Medicina do Porto em 1910, a doutrina nela expendida é duma actualidade marcante. Constituída por 58 páginas de texto, logo nas palavras prévias o autor escreveu: «O desastre sucedido num diário desta cidade, onde em um aluimento foram arrastadas dezenas de pessoas da altura de um andar. Contaram-se numerosos feridos e dez mortos. Acorreram prestes os bombeiros, libertando os desventurados do pavoroso amontoado em que jaziam. Sucessivamente iam sendo transportados em macas para o hospital os que não podiam caminhar por seu pé. Ferimentos, asphixias, fracturas, tudo foi, se bem que mal, a caminho da misericórdia, numa extensa caravana desoladora. Eis a questão. Se houvesse um serviço de socorro organizado, com pessoal idóneo, médicos e auxiliares, uma selecção teria sido feita no momento, e não haveria por certo a registar um número tão elevado de mortos. Aventarei mesmo que todos escapariam... algumas das vitimas, as sufocadas por asphixia, deveriam ser socorridas imediatamente nas casas próximas.
Matou-as a longa caminhada para o hospital. As conclusões das autópsias o confirmam: das dez vitimas, nove morreram devido a asphixia por sufocação e uma pela hemorragia proveniente dos ferimentos.»
E mais adiante «Proclamar, pois, as sumas vantagens da organização dos socorros médicos nos sinistros, do estabelecimento de postos nas margens, fluviaes e marítimas, e da vulgarização dos socorros de urgência, taes são os intentos déste desprendido tentamen que a lei determinou, mas que a razão dos factos concebeu, embora precipitadamente, atabalhoadamente...»
O I Capítulo intitula-se «Necessidade e vantagens do serviço de pronto socorro. Sua organização em diversos países» do qual se extracta:
«Contudo, no sentido de socorros de urgência, nenhuma tentativa séria foi ainda feita. Os estabelecimentos hospitalares que tentam suprir esta falta são, sob tal ponto de vista, o que todos sabem – insuficientes. A ineficácia da sua acção resulta simplesmente de ser - demasiado tardia. Tal sucede aqui, no Hospital de Santo António. Único oásis no meio de um enorme deserto, muitas vezes a sua Iympha nem chega a humedecer os lábios d’aqueles que o demandam. O último sopro de vida extinguiu-se no caminho. Concretizemos. Afoga-se uma criatura no Douro, e por qualquer meio é agarrada e conduzida a terra. Que é uso fazer-se em tal conjectura? Apitar, para acudir a polícia que manda buscar uma maca à esquadra mais próxima e faz transportar, com uma duvidosa ligeireza, o desventurado para o Hospital da Misericórdia."
(Fonte: file:///C:/Users/aassm/AppData/Local/Temp/Miguel%20Bombarda%20e%20Singularidades%20de%20Uma%20%C3%89poca%20(2006)%20Bandeira,%20Teiga,%20Gandra,%20Pereira-Pinto.pdf)
"Dada a importancia que hoje vêm merecendo, nos diversos paizes, os serviços de primeiro soccorro, já com organisação propria, já mesmo individuaes, affigura-se-me de vantagem, visto taes serviços serem entre nós em extremo precararios, tomal-os para assumpto da obrigada prova final. [...]
Entre nós taes soccorros seriam de proveitosos effeitos, quer na margem ribeirinha e maritima, quer no seio da população. Em uma e outra parte ha, por fortuna, sempre a contar com individuos prestimosos que encaram o risco para valer a uma vida. Mas bem bastas vezes o esforço resulta inutil, por não ser racionalmente completado. E como deverá ser cruel e doloroso para o dedicado salvador vêr perdido o seu denodo e baldado o seu sacrificio! O ente desfallecido e inane que tanto lhe custou a arrancar ao perigo, umas vezes em fragil casca de noz ou em pleno elemento defrontando o arremetter das vagas, outras vezes em debil escada mordido pelas labaredas, não mais accordou do somno profundo em que cahira. É que o acto de generosidade fôra incompleto."
(Excerto de Palavras prévias)
"Na epocha presente, de vida activa e laboriosa, onde os serviços de assistencia social são por demais necessarios, assignalam-se como dos não menos importantes aquelles que visam soccorro rapido e efficaz. Augmentadas as causas do perigo, pelo uso assombroso do vapor e da electricidade, nas industrias e nos transportes, devia consequentemente crescer o numero dos accidentes. D'ahi a necessidade de um socorro prompto, em harmonia com as exigencias imperiosas do viver moderno."
(Excerto do Cap. I - Necessidade e vantagens do serviço de prompto soccorro)
Matérias:
Escola Medico-Cirurgica do Porto : Corpo Docente. | [Dedicatórias]. | Palavras prévias. | I - Necessidade e vantagens do serviço de prompto soccorro. Sua organisação em diversos paizes. II - A asphyxia: considerações geraes. - Asphyxia toxica pelo oxydo de carbono. - Asphyxia por suffocação. - Asphyxia por submersão. III - Tratamento das asphyxias; processos antigos e modernos. | Breves instrucções para soccorro em caso de morte aparente. | Proposições.
Joaquim Pedro Vitorino Ribeiro (1882-1944). "Era o mais velho dos três filhos do pintor e coleccionador Joaquim Vitorino Ribeiro. Frequentou a Academia Politécnica do Porto (1902-1905). Deste estabelecimento de ensino transitou para a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde, em 1919, concluiu o curso de Medicina com a defesa da tese "Socorros de urgência - Breves Notas". De seguida, partiu para Paris, onde se especializou em Radiologia. Regressou ao Porto em 1911. Em 1919, foi nomeado clínico auxiliar da Santa Casa da Misericórdia e chefe do Laboratório de Radiologia e Fotografia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde, desde 1913, exercia as funções de chefe do Gabinete de Fotografia e Electroterapia. Em paralelo com a formação académica e a carreira médica, desenvolveu muitas outras actividades humanitárias e culturais. Foi militar (voluntário de Infantaria em 1901, alferes em 1911, tenente-médico em 1915 e capitão em 1918), tendo chegado a participar na I Guerra Mundial, pois integrou como capitão-médico miliciano o Corpo Expedicionário Português que partiu para Paris em Abril de 1918. Participou em jornadas arqueológicas e artísticas pelo país, desenhando, pintando e tirando fotografias."
(Fonte: https://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/300191/?)
Exemplar em brochura, por abrir, bem conservado.
Muito raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
Com interessehistórico.
Peça de colecção.
65€

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