20 novembro, 2017

PICÃO, José da Silva - A CAMINHO DA CEGONHA (Crónica de Aldeia). Elvas, Tipografia Progresso : Ernesto A. Alves e Almeida, 1940. In-4.º (23cm) de 47, [1] p. ; B. Colecção «Correio Elvense», 2.ª série : N.º 3
Reedição restrita desta castiça obra de José da Silva Picão, originalmente publicada em 1894, conjuntamente com outros autores no Número brinde aos senhores assignantes d'O Elvense.
Tiragem: 200 exemplares.
"José da Silva Picão foi lavrador e escritor. Fruto expontâneo do meio em que nasceu e labutou, sem preparação literária erudita, pôz-se a escrever à-cêrca da sua terra e da sua gente com o à-vontade de quem para alem daquele mundo não vislumbrava mais mundo e foi assim, no rude contato com a natureza e os homens que vivem à semelhança desta, que produziu prosa forte e sàdia, despida de galas postiças, mas realista e saborosa como no género outra não houve em Portugal. [...]
O trabalho que ora se publica é uma das primeiras e, para o efeito, nêste momento, a última rutilação do espirito literário de José da Silva Picão.
Nêle de descreve a odisseia de uma aldeia alentejana - Santa Eulalia - condenada ao martirio periodico da falta de água, que dificilmente se adquiria em poços ou escassos mananciais, donde era tirada por meio de um chocalho. Á-cerca dêste costume, - que José da Silva Picão descreve pitorescamente - diz o etnografo Antonio Tomaz Pires, no seu trabalho Tradições Populares Transtaganas, Elvas, 1927:
«Á beira dos poços, em vez de caldeiros para tirar água, veem-se frequentemente grandes chocalhos a isso destinados». Por isso o povo opina, em seus motejos, que em Santa Eulalia quem não tem chocalho não bebe...
A novela A Caminho da Cegonha é uma pequena obra prima de literatura regional, pelo valor do estilo, acêrto no emprego dos vocábulos e rigor descritivo. [...]
Santa Eulalia paga assim uma divida de gratidão a um seu filho ilustre, pois que José da Silva Picão - filho de lavradores, era natural daquela localidade, onde nasceu a 10 de Março de 1859 e onde faleceu a 18 de Maio de 1922."
(excerto da introdução de Domingos Lavadinho)
"Era aí pelos introitos do S. Mateus. As chuvas outonais ainda não tinham aparecido e a estiagem do verão, que fôra comprida e aspérrima, ameaçava prolongar-se indefinidamente, para flegêlo das mulheres da aldeia, que se viam em palpos de aranha para obterem agua suficiente às necessidades de consumo.
Os quatro poços contíguos à povoação, de ha muito que estavam absolutamente sêcos. No fundo de todos, como que a atestar as diabruras do rapazio, amontoavam-se pedras de diferentes tamanhos, misturadas com vários fragmentos de origens diversissimas. Mas, a respeito de amostras de agua, que era naturalmente o que nêles devia haver, nem sequer uma gôta! [...]
Nestas circunstâncias, a população feminina andava num vai-vem constante a caminho da «Cegonha», - uma nascente bem reles, mas a melhor das imediações, principalmente quanto à qualidade da agua, que asseveravam ser optima. Até se dizia que o Santos, mestre das letras, que viera de Campo Maior sofrendo atrozmente da bexiga, depois que bebera da Cegonha, nunca mais importunara o Dr. Vicetto com a massada gratuita da introdução da algália."
(excerto do início da novela)
Exemplar brochado, por aparar, em bom estado de conservação.
Raro.
Indisponível

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