24 agosto, 2017

CORTESÃO, Jaime – MEMÓRIAS DA GRANDE GUERRA (1916-1919). 1.º milhar. Pôrto, Edição da «Renascença Portuguesa», 1919. In-8.º (19cm) de 247, [1] p. ; [35] f. il. ; [1] mapa ; E. Colecção Biblioteca Histórica : Memórias, II
1.ª edição.
Apreciado título do autor, e uma das mais notáveis obras coevas publicadas sobre a Grande Guerra. Ilustrada com 35 fotogravuras e desenhos em extratexto. Contém um mapa desdobrável da região do norte da França, onde operaram as forças do C. E. P.
“Este livro vem tarde.
A guerra e as prisões (a guerra sempre) não me deixaram fôrças para fazê-lo antes.
A própria violência da guerra atingiu esta pequena obra na sua primeira forma.
Durante as horas serenas ou terríveis da França eu o tinha apontado com a pena e com o lápis, escrevendo e desenhando. Perderam-se êsses apontamentos na batalha do Lys, ficando-me apenas alguns poucos que enviára para Portugal. Foi com êles e com restos de cartas e recordações que eu reconstituí o perdido, e rascunhei de novo as minhas memórias.
Direi apenas o que vi e ouvi. Sofri demais para poder mentir. O sentido da verdade e a coragem de a dizer são as maiores conquistas que esta guerra deu aos que nela mergulharam a fundo.
[…]
O que todos, todos puderam sentir nesta guerra foi a sua infinita capacidade de misérias.
Muitos, em nome de altos princípios, deram-se com heroísmo sereno às mais dolorosas provações. E alguns, quando colocados na contingencia dos deveres terríveis, fôram sublimes. Tiveram nos dias cinzentos horas de claridade divina.
Mas só assim, amassada com oiro e lama, a verdade é humana, é inteira e grandiosa.
O homem, - o mais alto, só o foi, só o é em relação à sua e à baixeza dos outros.
Êste livro vem tarde, mas inda vem a tempo.
[…]
Nem por isso a nossa guerra, como as outras, deixa de se repassar em sofrimento e de epopeia. Para isso bastava a batalha do Lys e a arrancada épica daqueles homens, que, vencendo a inércia e a descrença dos grandes chefes, conseguem, através de tudo, marchar para a frente, onde se ganhava a vitória.
Vem tarde êste livro, mas cêdo todavia para a visão inteira e larga da nossa luta.”
(excerto do prefácio) 
Matérias:
- Prefácio. – O génio do Povo. – O Palácio na lama. – Luta inglória. – Em viagem. – Baptismo de fogo. – Os sete círculos da guerra. – Ecce Homo!… - Três dias, como tantos. – Dezembro de 1917. – A terra fantasma. – Gritos na noite. – O Esgalhado. – O almôço do Pintor. – Os que endoidecem. – Os mortos. – Um raid. – Sôbre a arena. – No abismo. – A batalha do Lys. – Às grades. – Últimos combates. – O sodado da Grande Guerra. – Post-sriptum.
Jaime Zuzarte Cortesão (1884-1960). Médico, político, escritor e historiador português. “Formou-se em Medicina em 1909, depois de ter estudado em Coimbra, Porto e Lisboa. Foi professor no Porto de 1911 a 1915. Tendo sido eleito deputado em 1915, defendeu a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial onde participou como capitão-médico voluntário do Corpo Expedicionário Português, tendo publicado as memórias dessa experiência. Com Leonardo Coimbra e outros intelectuais, fundou em 1907 a revista Nova Silva. Em 1910, com Teixeira de Pascoaes, colaborou na fundação da revista A Águia, e em 1912 dá início à Renascença Portuguesa, que publicava o boletim A Vida Portuguesa.  Em 1921, separando-se da Renascença Portuguesa, é um dos fundadores da revista Seara Nova. Em 1919 foi nomeado  director da Biblioteca Nacional, cargo que exerceu até 1927. Devido a ter participado numa tentativa de derrube da ditadura militar foi demitido, exilou-se acabando por viver em França, donde saiu em 1940, devido à invasão daquele país pelo exército alemão. Foi para o Brasil, passando por Portugal, onde foi detido por um curto espaço de tempo. No Brasil residiu no Rio de Janeiro, tornando-se professor universitário, especializando-se na história dos descobrimentos portugueses e na formação do Brasil. Em 1952, organizou a Exposição Histórica de São Paulo, para comemorar o 4.º centenário da fundação da cidade. Regressou a Portugal em 1957.”
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas cansadas, sujas, com defeitos.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

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